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JFRJ promove passeio guiado pelo Circuito da Herança Africana

Sítio Arqueológico Cais do Valongo.
Sítio Arqueológico Cais do Valongo.
Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos.
Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos.

Em comemoração ao mês da Consciência Negra, a Justiça Federal do Rio de Janeiro promoveu na manhã do dia 19 de novembro um passeio guiado pelo Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana, um conjunto de sítios arqueológicos e monumentos situados na Região Portuária, que integram o patrimônio material e imaterial de africanos e afrodescendentes.

Magistrados e servidores da JFRJ, em companhia de estudantes do 8ª ano do Colégio Estadual Francisco Lima, de São Gonçalo, percorreram pontos da região que remetem às várias dimensões da vida dos africanos escravizados no Brasil, desde seu desembarque, comércio e herança cultural. O passeio foi conduzido pelo advogado e guia voluntário do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (INP), Albino Pereira.

O tour começou no Largo de São Francisco da Prainha, onde foi erguido um monumento em homenagem à Mercedes Batista, primeira bailarina negra a integrar o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e a Casa do Nando, quilombo urbano de resistência cultural negra. Em seguida, os participantes visitaram a Igreja de São Francisco da Prainha, pertencente à Ordem Terceira da Penitência dos Franciscanos, localizada no Morro da Conceição. Destruída no começo do século 18, a edificação foi restaurada durante as obras de revitalização da Zona Portuária.

Sal, suor e samba

O destino seguinte foi a Pedra do Sal, berço do samba carioca, dos primeiros ranchos carnavalescos, afoxés, e importante ponto cultural da cidade. Tombado em 1984 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, o local recebeu esse nome em referência ao sal que era descarregado das embarcações que aportavam nas proximidades. Segundo Albino Pereira, a Pedra do Sal também foi importante para o reestabelecimento das relações comunitárias entre os negros por meio da música e do candomblé.

Outro local visitado foi o Sítio Arqueológico Cais do Valongo, principal ponto de desembarque de africanos escravizados no Rio de Janeiro. Estima-se que cerca de dois milhões de pessoas tenham desembarcado ali. Em 2017, o Cais do Valongo foi reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Sensível da Humanidade, por conta de sua importância na conscientização sobre o processo de diáspora africana e sua herança histórica e cultural.

O passeio foi finalizado com uma visita ao Museu Memorial Pretos Novos, parte das instalações do INP. Por meio de uma pesquisa arqueológica realizada no Cemitério dos Pretos Novos (como eram chamados os negros que morreram nos porões dos navios durante a travessia), a instituição estima que tenham sido enterradas no local entre 20 e 30 mil pessoas, porém, sem o devido cuidado. Segundo os pesquisadores, os corpos eram despedaçados, queimados, espalhados pelo terreno e cobertos com uma pá de terra. Também há indícios de que moradores da região, na época, despejavam lixo doméstico no local. O sítio é considerado o maior cemitério de escravos desse gênero nas Américas.

Foi a primeira vez que a JFRJ participou do tour ao Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana. O passeio é realizado gratuitamente às terças-feiras durante o período letivo escolar. No próximo ano, a JFRJ vai participar de outras edições do passeio guiado.