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JFRJ garante livre circulação aos caiçaras de Paraty

praia em Paraty, barcos pesqueiros perto da orla, área verde em toda costa

As comunidades caiçaras de Laranjeiras (Vila Oratório), Praia do Sono e Ponta Negra, localizadas em Paraty, tiveram o direito de livre utilização de seus caminhos tradicionais garantido pela 1ª Vara Federal de Angra dos Reis. A decisão ocorreu em uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal - MPF contra o Instituto Estadual do Meio Ambiente – INEA, o município de Paraty, o Condomínio Laranjeiras e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO.

De acordo com o MPF, o condomínio foi instalado em uma área tradicionalmente utilizada por comunidades caiçaras das Praias do Sono e de Ponta Negra para se deslocarem até o cais da região, para acessarem serviços públicos e para a produção e reprodução de seus modos de vida. Essa população, segundo o MPF, sofre com as restrições de acesso impostas pelo condomínio.

Em sua decisão, a juíza federal da 1ª Vara de Angra dos Reis, Mônica Maria Cintra Leone Cravo, explica a origem do povo e a importância da cultura caiçara. “As comunidades caiçaras são fruto da miscigenação entre os indígenas, colonizadores portugueses e negros. Essas comunidades têm um modo de vida particular que associa a pesca, a pequena agricultura, o artesanato e o extrativismo vegetal, tendo desenvolvido tecnologias patrimoniais, um conhecimento aprofundado sobre os ambientes em que vivem, danças e músicas além de um vocabulário com inúmeras palavras de uso local. Outrossim, realizam também atividades econômicas voltadas para o turismo tendo em vista o grande fluxo de turistas nessa região do litoral”, afirma a magistrada.

Segundo consta dos autos, desde a instalação na região do condomínio de luxo Laranjeiras, o modo como é exercido o direito de propriedade interferiu não apenas na proteção da territorialidade dos povos caiçaras, mas também no seu modo de vida e no acesso a serviços públicos.

Povos tradicionais como os caiçaras são protegidos por inúmeras normas e declarações, inclusive internacionais, citadas na decisão. “A intensidade da diretriz normativa que vigora na comunidade internacional exige e impulsiona os esforços dos Estados nacionais para fortalecer o pluralismo cultural nas sociedades contemporâneas e dar voz e vez aos grupos humanos minoritários (...) Mais ainda: a proteção desses modos de vida está associada também à proteção da biodiversidade, à ideia de desenvolvimento sustentável e, de modo mais geral, ao direito humano ao meio ambiente saudável, recentemente reconhecido pela ONU isso, justamente porque esses grupos costumam guardar cosmovisões e conjuntos de práticas sociais que, embora diversas entre si, possuem em comum uma relação estreita ou mesmo de continência com a Natureza”, destaca a juíza federal.

A decisão da 1ª Vara Federal de Angra dos Reis proíbe que o condomínio Laranjeiras restrinja o uso, pelos caiçaras, dos caminhos tradicionais que passam pelo interior do empreendimento, determina que o ICMBio demarque e sinalize os caminhos tradicionais e que a Prefeitura de Paraty mantenha um cronograma de coleta de lixo das Praias do Sono e de Ponta Negra, no mínimo, uma vez por semana, diretamente no cais.